Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes

Museu Roustaing

A verdade, para triunfar e ser aceita, tem primeiro que se chocar com as contradições dos homens. — Roustaing

8. INÍCIO DA MISSÃO DE ROUSTAING

Em sua primeira visita a Bordeaux, em outubro de 1861, Kardec pôde também observar um caso de mediunidade excepcional, que o impressionou vivamente; uma moça de dezenove anos produzira um desenho notável, surpreendente: “Trata-se de um quadro planetário (un tableau planétaire) de quatro metros quadrados de superfície, de um efeito tão original e tão singular que nos seria impossível dar uma idéia pela sua descrição” (RE, 1861, novembro, p. 475). O trabalho é desenhado em lápis negro, em pastel de diversas cores e em esfuminho. Kardec viu a médium em plena execução e ficou maravilhado com a rapidez e o nível de precisão: “Inicialmente, e à guisa de treino, o Espírito a fez traçar, com a mão levantada e de um jato, círculos e espirais de cerca de um metro de diâmetro e de tal regularidade, que se encontrou o centro geométrico perfeitamente exato” (RE, 1861, novembro, p. 475).

Outro fato que o ilustre visitante fez questão de ressaltar é que o pai da médium era pintor: “Como artista, achava que o Espírito obrava contrariamente às regras da arte e pretendia dar conselhos. Por isso o Espírito o proibiu de assistir o trabalho, a fim de que a médium não lhe sofresse a influência” (RE, 1861, novembro, p. 476).

Mais curioso ainda nesta história é que, pouco mais tarde, em dezembro do mesmo ano – 1861 – Roustaing é igualmente convidado a conhecer a mesma peça, e assim, passamos a saber mais detalhes sobre a médium desse tão impressionante desenho, e sobre seus pais. A narração do episódio é do próprio Roustaing: “Em dezembro de 1861, foi-me sugerido ir à casa de Mme. Collignon, que eu não tinha a satisfação de conhecer e a quem devia ser apresentado, para apreciar um grande mediunicamente desenhado, representando um aspecto dos mundos que povoam o espaço” (QE, I, 64).

Evidentemente que estamos diante do mesmo quadro, seja pelas suas dimensões, em si incomuns, seja pelo aspecto planetário ... Outro ponto importante é que Charles Collignon, esposo da médium Émilie Collignon, de Os quatro Evangelhos, era pintor e espírita.

Ambos – Charles e Émilie – eram portanto os pais da médium mecânica de cerca de dezenove anos, Jeanne Colligon, em família chamada Jeannine, nascida em 1843, mais precisamente em 15 de dezembro deste ano. Foi então graças à mediunidade desta jovem que encontraram-se, pela primeira vez Roustaing e Collignon, os dois grandes missionários que, dias mais tarde, começariam a captação de uma das maiores obras mediúnicas de todos os tempos: “Os Quatro Evangelhos”...

J. B. Roustaing se sente bem recebido na primeira visita aos Collignon e resolve voltar lá, para agradecer: “Oito dias depois voltei à casa de Mme. Collignon, com o intuito de lhe agradecer o acolhimento que me dispensara por ocasião da visita que lhe fizera para ver aquela produção mediúnica” (QE, I, 64). Pretedia que fosse breve esse segundo contato, mera formalidade social: “Ao cabo de breve conversação sobre generalidades, como sói acontecer entre pessoas que mal se conhecem e que ainda não se acham ligadas por quaisquer relações de sociedade, tratei de retirar-me” (QE, IV, 68).

É nesta hora, entretanto, que os Espíritos se revelam, convidando estes dois missionários para a consecussão dos Les quatre Évangiles: “No momento que me preparava para sair, Mme. Collignon sentiu na mão a impressão e a agitação fluídicas bem conhecidas dos médiuns, indicadoras da presença de um Espírito desejoso de se manifestar. A instância minhas, ela condescendeu em se prestar à manifestação mediúnica e, no mesmo instante, à mão, fluidicamente dirigida, escreveu o seguinte” (QE, I, 64).

Imediatamente segue a bela mensagem anunciando a mais completa obra mediúnica sobre os Evangelhos de N. S. Jesus-Cristo. Um verdadeiro monumento em forma de livro. J. B. Roustaing e Émilie Collignon foram tomados de uma surpresa imensa, “Cheio ao mesmo tempo de alegria e do temor de não sermos capazes nem digno do encargo que nos era desferido” (QE, I, 66). Os Espíritos indicaram a semana seguinte para o início dos trabalhos. O Alto tem coisas que a nossa razão desconhece: “O trabalho ia ser feito por dois entes que, oito dias atrás, não se conheciam” (QE, I, 66). Aos discípulos, como servos, só é permitido aceitar, agradecer a oportunidade, pedir ajuda e trabalhar: “Chamados desse modo a executar essa obra da revelação, que certamente de nosso moto próprio não ousaríamos tentar, incapazes, ignorantes e cegos que éramos, metemos ombro à tarefa” (QE, I, 66)

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Veja também:

ROUSTAING, O APÓSTOLO DA FÉ

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