Bezerra de Menezes

Casa de Recuperação e Benefícios

Evolução e Espiritualização

Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade. — Allan Kardec

A EVOLUÇÃO E A ESPIRITUALIZAÇÃO DO SEXO E DAS FORMAS DE REPRODUÇÃO

Esse é um tema pouco estudado / comentado em nosso meio, e no entanto é fundamental para plena compreensão do processo evolutivo e progressiva evolução das formas. Se os mundos se fluidizam e os corpos se sutilizam, ao longo do carreiro evolutivo, é natural e necessário que os modos de reprodução acompanhem esse mesmo processo, deixando para trás a animalidade e adaptando-se a regimes superiores de espiritualidade. Encontramos a respeito, na edição de Fevereiro de 1864, da Revista Espírita, interessante artigo (e raro) sobre o tema, que transcrevemos abaixo.

Até aqui a reencarnação tem sido admitida de maneira muito prolongada; não se pensou que esse prolongamento da corporeidade, embora cada vez menos material, acarretava necessidades que deviam atrasar o progresso do Espírito. Com efeito, admitindo a persistência da geração nos mundos superiores, se atribuem ao Espírito encarnado necessidades corporais, dão-lhe deveres e ocupações ainda materiais, que o sujeitam e detêm o impulso dos estudos espirituais. Qual a necessidade desses entraves? Não pode o Espírito gozar das alegrias do amor sem sofrer as enfermidades corporais? Mesmo na Terra, esse sentimento existe por si mesmo, independente da parte material do nosso ser; por mais raros que sejam, há exemplos suficientes para provar que deve ser sentido, de modo mais geral, entre os seres mais espiritualizados.

A reencarnação proporciona a união dos corpos; o amor puro, apenas a união das almas. Os Espíritos se unem segundo afeições iniciadas em mundos inferiores, e trabalham juntos por seu progresso espiritual. Têm uma organização fluídica totalmente diferente da que era conseqüência de seu aparelho corporal, e seus trabalhos se exercem sobre os fluidos, e não sobre os objetos materiais. Vão a esferas que, também, realizaram seu período material e cujo trabalho humano ensejou a desmaterialização, esferas que, chegadas ao apogeu de seu aperfeiçoamento, também passaram por uma transformação superior que as torna apropriadas a experimentar outras modificações, mas num sentido inteiramente fluídico.

Agora compreendeis a imensa força do fluido, força que mal podeis constatar, mas que não vedes nem apalpais. Num estado menos pesado ao em que estais, tereis outros meios de ver, tocar, trabalhar esse fluido, que é o grande agente da vida universal. Por que, então, o Espírito ainda teria necessidade de um corpo para um trabalho que está fora das apreciações corporais? Dir-me-eis que esse corpo estará em relação com os novos trabalhos que o Espírito deverá realizar; mas, levando-se em conta que esses trabalhos serão completamente fluídicos e espirituais nas esferas superiores, por que lhe dar o embaraço das necessidades corporais, uma vez que a reencarnação determina sempre, como já disse, geração e alimentação, isto é, necessidades da matéria a satisfazer e, em contrapartida, entraves para o Espírito? Compreendei que o Espírito deve ser livre em seu vôo para o infinito; compreendei que, tendo saído das fraldas da matéria, aspira, como a criança, a marchar e a correr sem ser detido pelo zelo materno, e que essas primeiras necessidades da primeira educação da criança são supérfluas para a criança crescida, e insuportáveis para o adolescente. Não desejeis, pois, ficar na infância; olhai-vos como alunos que fazem os últimos estudos escolares e se dispõem a entrar no mundo, a nele ter a sua posição e a começar trabalhos de outro gênero, que seus estudos preliminares terão facilitado.

O Espiritismo é a alavanca que, de um salto, erguerá ao estado espiritual todo encarnado que, querendo bem compreendêlo e o pôr em prática, se empenhará em dominar a matéria, a tornar-se seu senhor, a aniquilá-la; todo Espírito de boa vontade pode pôr-se em condição de passar, ao deixar este mundo, para um estado espiritual sem retorno terrestre. Falta-lhe apenas fé ou vontade ativa. O Espiritismo a oferece a todos os que o quiserem compreender em seu sentido moralizador.

Um Espírito protetor do médium (Revista Espírita Fev/1864, Ed. FEB, págs.81 e 82)