Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes

Museu Bezerra de Menezes

"De nada vale o brilho da inteligência, se o coração permanece às escuras". — Bezerra de Menezes

8. APÓSTOLO DO ESPIRITISMO:

O Espiritismo, qual novo maná celeste, já vinha atraindo multidões de crentes, a todos saciando na sua missão de Consolador. Logo que apareceu a primeira tradução brasileira de "O Livro dos Espíritos", em 1875, foi oferecido a Bezerra de Menezes um exemplar da obra pelo tradutor, Dr. Joaquim Carlos Travassos, seu amigo, que se ocultou sob o pseudônimo de Fortúnio e inclusive, em sua tese de formatura sobre queimaduras, escreveu-lhe uma dedicatória.

Foram palavras do próprio Bezerra de Menezes, ao proceder à leitura de monumental obra: "Lia, mas não encontrava nada que fosse novo para meu espírito, entretanto tudo aquilo era novo para mim [...]. Eu já tinha lido ou ouvido tudo o que se achava no Livro dos Espíritos [...]. Preocupei-me seriamente com este fato maravilhoso e a mim mesmo dizia: parece que eu era espírita inconsciente, ou mesmo, como se diz vulgarmente, de nascença".

Contribuíram também para torná-lo um adepto consciente as extraordinárias curas que ele conseguiu, no início dos anos 1880, do famoso médium receitista João Gonçalves do Nascimento, através do espírito Dr. Dias da Cruz, antigo companheiro de Bezerra como vereador e como deputado – pai do famoso dr. homeopata Francisco Menezes Dias da Cruz. Mais que um adepto, Bezerra de Menezes foi um defensor e um divulgador da Doutrina Espírita.

Em 1883, recrudescia, de súbito, um movimento contrário ao Espiritismo e, naquele mesmo ano, fora lançado por Augusto Elias da Silva o "Reformador", órgão oficial da Federação Espírita Brasileira e periódico mais antigo do Brasil, ainda em circulação. Elias da Silva consultava Bezerra de Menezes sobre as melhores diretrizes a seguir em defesa dos ideais espíritas. O venerável médico aconselhava-o a contrapor-se ao ódio, a praticar o amor e a agir com discrição, paciência e harmonia. Elias também fundou a Federação Espírita Brasileira, em 1884.

Bezerra não ficou, porém, apenas no conselho teórico. Com as iniciais A. M., desde fevereiro de 1883, principiou a colaborar com o "Reformador", emitindo comentários judiciosos.

Embora sua participação tivesse sido marcante até então, somente em 16 de agosto de 1886, aos 55 anos de idade, Bezerra de Menezes, perante grande público, em torno de 1.500 a 2.000 pessoas, no salão de Conferência da Guarda Velha, em longa alocução, justificou a sua opção definitiva de abraçar os princípios da consoladora doutrina.

Daí por diante, Bezerra de Menezes foi o catalisador de todo o movimento espírita na Pátria do Cruzeiro, exatamente como preconizara Ismael. Com sua cultura privilegiada, aliada ao descortino de homem público e ao inexcedível amor ao próximo, conduziu o barco de nossa doutrina por sobre as águas atribuladas pelo iluminismo fátuo, pelo cientificismo presunçoso, que pretendia deslustrar o grande significado da Codificação Kardequiana.

Enquanto presidente da FEB em 1889, implantou o estudo metódico de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, e foi reconduzido ao espinhoso cargo em 1895, quando implantou o estudo da obra Os Quatro Evangelhos de Jean Baptiste Roustaing, em uma época na qual se agigantava a maré da discórdia e das radicalizações no meio espírita. Permaneceu no cargo até 1900, ano em que desencarnou.

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