DESCONHECIMENTO DO FUTURO
Entre as inescrutáveis Leis de Deus chama a atenção, merecendo reflexões, a que se refere ao desconhecimento do futuro concedido à criatura humana. Oportunidades surgem, nas quais, pessoas portadoras da faculdade precognitiva captam fragmentos de possíveis ocorrências porvindouras, no entanto, são sempre as de grave ressonância que se permitem registrar.
Em uma análise dos fenômenos proféticos têm primazia as ocorrências que são de caráter trágico, portadoras de comoção e terror, convidando a criatura humana, individual e coletivamente, à mudança de comportamento, de modo que com essa atitude possa alterar o rumo dos acontecimentos, mas o que raramente ocorre.
Destacam-se, no entanto, entre as notícias proféticas otimistas, que são raras, o nascimento de Jesus e a Sua missão extraordinária, por ser Ele o divisor das épocas, dando início à Era do amor que, lamentavelmente, ainda não se implantou na Terra, e só a pouco e pouco se instala nos corações.
Não obstante os anúncios alvissareiros, quando de Sua chegada Ele não encontrou receptividade; antes defrontou corações covardes e agressivos, em razão das aspirações exacerbadas dos Seus contemporâneos, que aguardavam um Messias vingador dos seus sofrimentos, que lhes concedessem glórias e honras em detrimento da restante Humanidade, mas que o túmulo sempre toma e desconsidera.
É providencial a ignorância do futuro, porquanto as resistências psicofísicas dos seres, como têm dificuldades para enfrentar o presente com calma, menos recursos possuem para viver por antecipação o amanhã.
Insistem, muitos indivíduos, em tentar descobrir os acontecimentos porvindouros, derrapando nas fantasias e ilusões com as quais se fascinam e se embriagam.
Soubesse-se das graves ocorrências por suceder e, sem dúvida, o sofrimento seria antecipado, gerando depressão e loucura, desespero e suicídio.
Aguardar a chegada de tragédias e dramas, de infortúnios e dissabores constituiria desgraça injustificada, maior do que o fato em si.
Tivesse-se conhecimento por antecedência de sucessos felizes, de vitórias afetivas, de glórias por conquistar e a ansiedade tornaria desditoso o período que separa o momento da descoberta ao da sua concretização.
Ademais, nasceria tormentosa desconsideração pelo presente, cuja condução modificaria o futuro.
No rio do tempo somente o hoje é vital.
Vivê-lo com elevação e nobreza é a forma feliz de anular o ontem e programar o amanhã.
O ser humano está elaborado com equipamentos próprios para o trabalho de crescimento espiritual conforme as condições do planeta que habita.
Quem deseje conhecer o próprio como o futuro da Humanidade, examine o seu comportamento e escreva com atos atuais as determinantes que comporão as paisagens que irá defrontar mais tarde.
Não há favoritismo nas Leis de Deus, que facultem a uns conquistas e favores que a outros sejam negados.
Todos passam pelo mesmo crivo de elevação ao custo de esforço pessoal indeclinável.
Se aspiras conhecer o teu futuro, examina o teu presente, programando os teus pensamentos, palavras e atos que formarão o tecido do que está por vir. Se aspiras saber do teu passado, aprofunda reflexões nos teus dias atuais e concluirás como ele ocorreu, em razão daquilo que és agora.
O desconhecimento do futuro, qual sucede com o do passado, é bênção da Vida, contribuindo para uma existência harmônica, embasada na confiança dos resultados do amor e do trabalho, que são alavancas promotoras do progresso para todos.
Quando Deus permite ao ser humano conhecer o futuro em caráter especial, assim o faz, objetivando o seu e o progresso da sociedade. A forma porém, como o indivíduo se utiliza desse conhecimento, é de sua inteira responsabilidade, assim como as consequências disso advindas.
A cada instante estás alterando o teu futuro mediante as tuas ações.
Desse modo, constrói-o em luz e em paz, mesmo que estejas caminhando entre sombras e sobre espículos que te ferem os pés.
Não desfaleças, e segue adiante no rumo do teu amanhã, que começa agora.
(No Rumo da Felicidade – Joanna de Ângelis/Divaldo Franco )
FRATERNIDADE
Fascinado pela grandeza das próprias conquistas, o homem moderno se arroja em aventuras cada vez mais fantásticas ampliando os horizontes da vida.
Intrigado com o insondável do Cosmo vem, a pouco e pouco, decifrando os enigmas das galáxias, a um passo para a compreensão das causas da vida na sua mais profunda realidade.
Interrogando as moléculas, penetra-lhes a estrutura, identificando a perfeição das leis que mantêm o processo existencial e ensejando-se conclusões audaciosas para o pensamento.
Viaja em bólides espaciais e trabalha em favor do conforto e da solução de inumeráveis desafios ao bem-estar orgânico e psíquico no mundo.
Todavia, por mais respeitáveis que se apresentem estas conquistas, ainda há muita carência na Terra.
O medo aturde as almas, e os corações estiolados agridem-se.
Há falta de pão, e os interesses dominam nas faixas elementares dos instintos agressivos, gerando aflições, desconforto e infelicidade.
A aquisição dos valores materiais não logrou equacionar as dificuldades morais responsáveis pelas "lesões da alma" em processo de evolução.
Diminuindo a gravidade dos problemas, surge a fraternidade como o primeiro passo para a plena identificação entre os homens, lançando a ponte para as manifestações do amor
A fraternidade é o hálito de Deus, sustentando as criaturas e unindo-as como verdadeiros irmãos.
A fraternidade é bênção que alenta e consola, quando deperecem os recursos exteriores, incapazes de amparar os sentimentos e sustentar o equilíbrio a ponto de desarmonizar-se.
Manter a fraternidade em nossos grupos espíritas é dever impostergável, que nos cabe a todos nós.
Ante a fraternidade resolvem-se as mais difíceis situações, propiciando-se realizações legítimas.
Mediante a fraternidade o sangue do entusiasmo reestimula os corações combalidos, equilibrando-os na luta áspera de crescimento para Deus.
Viver a fraternidade de forma compatível com as necessidades do momento, eis o dever de todos aqueles que compreendemos a missão e o apostolado de Jesus, na Terra.
Vivendo com os homens, semelhante a eles e superior a todos, o Mestre jamais dispensou a fraternidade, legando-a a Seus discípulos, a fim de que todos que os conhecessem soubessem que Lhes pertenciam...
Assim, vivendo em santa fraternidade e edificando no íntimo o mundo novo de paz, façamos dos nossos propósitos alicerce de ternura e realização nos quais a caridade se distenda na direção da Humanidade.
(Compromissos Iluminativos – Bezerra de Menezes/Divaldo Franco)
OS EVANGELHOS EXPLICADOS
GENEALOGIA DE JESUS (aos olhos dos homens)
(Mateus, 1: 1 a 17 - Lucas, 3: 23 a 38 - continuação)
Já não ignorais, porquanto os tempos caminharam, as inteligências se desenvolveram e o progresso das ciências se operou, que a Criação do primeiro homem, num paraíso, num jardim de delícias, dentro do qual se encontravam a árvore da vida e a da ciência do bem e do mal, é uma figura oriunda da necessidade de se apropriarem os ensinamentos à inteligência humana. Quão poucos são ainda entre vós os que se mostram aptos a compreender uma existência que não teve começo e não terá fim!
Figuradamente, a genealogia de Jesus remonta a Adão, como remonta a Deus a Criação do corpo formado de limo.
Naquela época, porém, tão formal desmentido à letra do Gê nese houvera revoltado as massas, inquietado os fracos e retardado a marcha da obra de regeneração.
De acordo com essa genealogia humana, quer segundo Mateus, quer segundo Lucas, qual a descendência atribuída a Jesus?
A de filho de David por José, que é seu pai, aos olhos dos homens, e que por sua vez também aparece como descendente daquele Profeta.
Foi com o fim de ligar o nascimento de Jesus a David que se estabeleceu a genealogia, tanto segundo Mateus, como segundo Lucas. Ela é o fruto das pesquisas realizadas com esse objetivo. Mas, fizera-se a noite dos tempos e muitos nomes foram introduzidos em lugar de outros que eram ignorados e se supunha deverem existir. Pouco importam, porém, os nomes: as relações genealógicas existem pela filiação das famílias.
Não vos embaraceis com as diferenças que as duas genealogias apresentam. São puerilidades. O tronco era o mesmo. De confundirem filhos de dois irmãos nasceu a confusão dos nomes que algumas vezes pertenceram aos mesmos indivíduos. Não vos sucede usar de muitos nomes, em consequência de adições, ou de mudanças devidas à vaidade e não é muito natural e provável que, no futuro, os que vos pesquisarem os atos to mem um desses nomes por outro, sem que o indivíduo deixe de ser o mesmo? Assim, com relação aos nomes, um dos Evangelistas seguiu um dos ramos e o outro um ramo diverso. Ambos os ramos, porém, pertenciam ao mesmo tronco.
Não há obras humanas impecáveis. O essencial, para os hebreus, era a origem e as duas genealogias são acordes em apresentar José como descendente de David.
(Fonte: "Os Quatro Evangelhos", org. de Jean Baptiste Roustaing, psicografia de Émilie Collignon, Ed. Ibbis, Brasília, 2022. Tomo I, Item 55, parágrafos 12 a 19)
ESTUDOS FILOSÓFICOS: A maior e melhor série de artigos
da literatura espírita brasileira está de volta!
Artigo CDXXIX - Gazeta de Notícias, 23-02-1896
Deus nos perdoe, se é por vaidade que procuramos, com tanto empenho, abrir os olhos ao Apóstolo, sobre as verdades eternas, tão mal interpretadas e ensinadas pela Igreja romana.
Vemos rasgar-se o véu do templo, a luz do Espiritismo – e confrange-se-nos a alma diante da cegueira do novo sacerdócio.
O Espiritismo, porque arrasa todo o edifício atribuído ao demônio, com o ensino das vidas múltiplas e sucessivas e da salvação universal, é anatematizado pelo clero romano, como obra do demônio!
É lógico, pois, concluir: que, se ele endeusasse o demônio, em vez de atirá-lo à geena, onde jazem as potências mitológicas, receberia as bençãos papais, como bom filho do Eterno!
Parece incrível; mas é verdade!
Roma está tão ligada com o demônio, que anathema sit todo o que tentar contra o deus do mal!
Entretanto, o Espiritismo prega a salvação universal, fundado nas sagradas letras – fundando em Ezequiel, por quem disse o Senhor: “eu não contenderei sempre com o pecador”, fundado em Isaías, por quem igualmente falou Deus: “Eu vos criei, eu vos susterei – eu vos trarei e vos salvarei”.
Isto não foi dito a um homem, ilustrados redatores do Após tolo; mas sim foi dito aos povos da Judeia e de Israel.
Bem compreendeis que a promessa de salvação para toda aquela gente, estendeu-se por Nosso Senhor Jesus a toda a humanidade.
E, agora, onde acomodareis o vosso domínio, com o seu Inferno e as suas penas eternas?
E porque o Espiritismo, firmado nas sagradas letras e no ensino dos altos Espíritos varre do horizonte da humanidade todas estas invenções, que já fizeram seu tempo – coloca em seu lugar a estrela luminosa que anuncia a redenção dos cativos do mal; o Espiritismo é obra de Satanás!
Em paga de vossas excomunhões vamos fazer-vos um mimo: são trechos da longa comunicação feita aos padres de Lérida por um Espírito angélico, como o reconhecereis pela elevação de seus conceitos.
Aceitai-a, que vos é oferecido de coração.
“O dogma do Inferno, de uma mansão horrível de dores sem esperanças nem termo, síntese de todas as dores, de todas as angústias, de todas as agonias, de todos os desesperos, em uma palavra de todos os suplícios que podiam conceber o coração mais desumano, a crueldade mais refinada; é, como o dogma do diabo, uma terrível blasfêmia e a negação de Deus em sua bondade, em sua misericórdia, em sua justiça, em suas sabedorias, e ainda poder-se-ia acrescentar: em sua imensidade, pois que não se pode conceber a presença da divina substância na tenebrosa região do crime eterno e do desespero sem termo.
“Confrontai-a, se vos é possível, vós que ameaçais com torturas eternas aos que como vós, esperam o justíssimo e supremo juízo – confrontai vosso dogma com as prescrições da moral evangélica, que também invocais.
“Não percebeis – não vedes claramente um contraste, uma flagrante contradição, um absurdo, em um Deus que prescreve, por meio de seu Enviado, a caridade sem limites e o perdão das ofensas e dá, ao mesmo tempo, o exemplo de um ódio eternamente vivo e de uma caridade mesquinha?
“Digo mesquinha, porque com as dificuldades e tropeços que, no caminho da salvação, amontoou a Igreja romana, mesquinho, por não dizer completamente nulo, é o número dos eleitos do Senhor.
“Jesus Cristo, que nunca descerrou os lábios para pronunciar uma palavra inútil, porque era a encarnação da divina Palavra – e em tudo falava por superior delegação; nos últimos momentos de sua vida, como resumindo a moral de seus ensinamentos, disse aos homens: amai-vos – e, elevando seu sentimento ao Pai: perdoai-lhes, disse, porque não sabem o que fazem.
“Homens. Não vos bastam estas duas palavras de amor e de esperança, para convencer-vos de que a caridade há de ser universal – e que do perdão ninguém é excluído, quando foram nele incluídos os próprios que quiseram matar a Doutrina do Amor na pessoa de Jesus – os próprios que levantaram mão parricida contra Deus, na pessoa de seu enviado?
“Jesus baixou em Espírito aos enfermos; isto é, ao mundo dos Espíritos, em suas diversas regiões, de luz e de trevas para dizer a uns: vós que morrestes na paz da justiça, que por vossas obras merecestes passar da linha que separa a expiação e a reparação da prova, porém que vos sentis sedentos de maior purificação; ide, descei à Terra, e apoderando-vos de meu testamento, sede os continuadores da minha obra e os mestres de minha Doutrina redentora.
“E aos outros, aos que haviam acabado no remorso, aos enfermos, aos leprosos da alma, aos condenados por suas obras, disse: ide, subi à Terra e encontrareis aí, se procurardes, o rocio de vossas amortecidas esperanças, a piscina de vossa salvação, a inesgotável fonte de vossa redenção e indefinido progresso.
“E Abraão e Caim (os bons e os maus) volveram à vida da carne.
“Se o dogma da eternidade de sofrimentos se referisse a uma eternidade relativa, que é como a entendeu Jesus; a justiça de Deus teria nele rebrilhado e nele ter-se-ia glorificado a Igreja.
“Não se concebe a ação da justiça divina senão exercendo-se e aplicando-se dentro de uma proporção e correspondência absolutas entre o castigo e a malícia da falta; e, como nenhuma falta humana procede de malícia, por sua natureza e origem, infinita, nem são eternamente permanentes suas consequências; tão pouco pode, em justiça, continuar eternamente o castigo.
“Continuará, sim, enquanto persistir a malícia e o Espírito se obstinar no mal, em termos tais que, se a obstinação fosse eterna, eterna seria a expiação. “Esta é a eternidade de que vos falava e entendia Jesus.”
Fiquemos aqui, ilustres redatores do Apóstolo, por hoje – por hoje, que melhores presentes temos a fazer-vos.
Agora, somente vos diremos: que o Espírito, cujos conselhos acabais de ler, é daqueles ante os quais o próprio Papa… não dará o pé a beijar!
Meditai – meditai sobre estes conceitos.
Max.
(Do Centro União Espírita)
Reproduzido conforme texto original. Confira na edição da Gazeta de Notícias de 23-02-1896 Hemeroteca da Biblioteca Nacional.
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