Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes

Destaque da semana

A Verdade, para triunfar e ser aceita, tem primeiro que se chocar com as contradições dos homens. — J.B.Roustaing

JEAN BAPTISTE ROUSTAING,
DISCÍPULO DE ALLAN KARDEC

(Texto adaptado da obra “Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo”, de Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros”).

Para saber mais sobre Roustaing e sua obra, visite o nosso Museu Roustaing.

Corria o ano de 1860, quando Roustaing foi convidado a pensar nas comunicações espíritas e em toda a filosofia que brota como resultado destas comunicações. Decidido a estudar o tema, começa exatamente pelas obras de Allan Kardec...

Li O livro dos espíritos. Nas páginas desse volume encontrei: uma moral pura, uma doutrina racional, de harmonia com o espírito e progresso dos tempos modernos, consoladora para a razão humana; a explicação lógica e transcendente da lei divina ou natural, das leis de adoração, de trabalho, de reprodução, de destruição, de sociedade, de progresso, de igualdade, de liberdade, de justiça, de amor e de caridade, do aperfeiçoamento moral, dos sofrimentos e gozos futuros (QE, I, 59).

Leu também O livro dos médiuns...

... e nele se me deparou uma explicação racional: da possibilidade das comunicações do mundo corpóreo com o mundo espiritual; das vias e meios próprios para essas comunicações; das aptidões e faculdades mediúnicas no homem; da mediunidade e das condições de moralidade e de experiência para seu exercício útil e proveitoso nas relações do mundo visível com o mundo invisível(QE, I, 60).

Foi a orientação do Codificador que buscou para começar também a experimentar o Espiritismo prático. Kardec recomendou-lhe frequentar o grupo do Sr. Sabò, um dos pioneiros do Espiritismo, em Bordeaux. Roustaing agradeceu, em carta, à indicação recebida, satisfeito pelos resultados obtidos:

desde o começo do mês de abril, graças ao conhecimento que me proporcionastes, do excelente Sr. Sabò e de sua família patriarcal, todos bons e verdadeiros espíritas, pude trabalhar e trabalho constantemente com eles, todos os dias, quer em minha casa (RE, 1861, junho, pp. 253-57). [...] Depois de ter visto e ouvido, minha fé se firmou de modo inabalável (QE, I, 63).

Kardec registra igualmente nas páginas da Revista Espírita a sua aprovação ao empenho e ao aproveitamento de Roustaing no estudo teórico e prático da Doutrina:

Vê-se que, embora iniciado recentemente, o Sr. Roustaing passou a mestre em assunto de apreciação. É que estudou, séria e profundamente, o que lhe permitiu apanhar, com rapidez, todas as consequências dessa grave questão do Espiritismo, não se detendo, em sentido oposto a muita gente, na superfície”. (RE, junho, 1861, pp. 258-60).

Roustaing jamais esqueceria o apoio do Codificador, recebido quando de seus primeiros passos na Doutrina. Tinha-o como mestre, como a coluna mestra do movimento ao qual agora se ligara em definitivo, e dedicaria a partir de então toda a sua energia, todos os seus recursos e os seus dias à divulgação do Espiritismo, apresentando-se sempre e tornando-se conhecido em toda região de Bordeaux como... “discípulo de Allan Kardec”.

Tornou-se assim um dos pioneiros – senão o primeiro – a se servir das palestras para divulgação da então novel doutrina, fazendo-o no seu “Grupo Roustaing”, um núcleo espírita por ele fundado na região de Arbis, localidade nos arredores de Bordeaux, onde tinha a sua casa de campo, a “Quinta do Tribus”. Os relatos de seus contemporâneos e pósteros, sobre esse trabalho, são emocionantes e verdadeiramente inspiradores. A consolidação deste Grupo espírita garantiu à população de Bordeaux e das cidades vizinhas, a partir de 1864, reuniões mensais e às vezes semanais concorridíssimas, onde os Evangelhos eram comentados à luz dos ensinamentos espíritas. As reuniões aconteciam no primeiro domingo de cada mês. Foi assim que, no dia 4 de setembro de 1864, o Sr. Armand Lefraise, uma das lideranças do movimento espírita da Gironde, esteve assistindo às atividades deste Grupo e, impressionado, num misto de alegria e esperança no futuro desta bela Doutrina, escreveu um artigo sobre a famosa domingueira, e o estampou no seu Le sauveur, na seção Variétés (1º ano, no 33, domingo, 11 de setembro de 1864, p. 4):

Assistimos, no último domingo, a uma reunião de espíritas, chegados há pouco à crença regeneradora. Um dos apóstolos mais dedicados da doutrina nova, o Sr. Roustaing, advogado na Corte imperial de Bordeaux, que a confiança e a estima de seus colegas muitas vezes elevaram ao posto de bastonário da ordem, recebia naquele dia, em sua casa, em sua propriedade do Tribus, como faz todo mês, os prosélitos que conseguiram chegar à sua região.

Apesar dos sermões nos quais ele foi ameaçado pelos raios da Igreja e pelas fornalhas do inferno, o Sr. Roustaing, compenetrado da santidade da doutrina que propaga, continua ainda mais a levar às populações que o cercam o conhecimento do Evangelho pelo Espiritismo; por isso obteve um resultado bem satisfatório. A cada dia de reunião, vê-se chegar a Tribus, de todas as regiões vizinhas, pessoas que, sentindo-se melhoradas, renovadas pela nova revelação posta à capacidade de sua inteligência, vêm dos arredores e de vários lugares ao redor agrupar-se em torno daquele cuja palavra eloquente e convicta lhes explica de maneira clara e penetrante a realidade da existência de Deus, da imortalidade da alma e de sua individualidade após a morte, pelas relações do mundo invisível dos Espíritos com o nosso.

Em geral, essas reuniões são compostas de pessoas que habitam o campo, honestos agricultores ou artesãos, entre os quais se encontra um grande número de médiuns, todos surpresos por obter comunicações que os sábios ou os distintos literatos não renegariam. Grande também é a admiração da assistência que pouco conhecia a capacidade literária de cada um. Daí partem as reflexões que, pouco a pouco, discutidas, debatidas, levam cada dia à crença novos incrédulos que, tendo visto com seus próprios olhos os resultados obtidos, e tendo ouvido as explicações do dono da casa, se retiram convencidos e fazem novos adeptos. Por isso, o Espiritismo caminha a passos largos na região.

[...] no último domingo, os vastos salões da casa do Tribus eram muito pequenos para conter a multidão diligente; isto apesar de um bom número de adeptos conhecidos terem faltado ao apelo, desculpando-se pelo não comparecimento.

O Sr. Roustaing semeia a boa semente em bom terreno que, recentemente arroteado por ele, produziu belos e bons frutos. Também, apesar de sua saúde arruinada pelo trabalho, não perde a oportunidade de utilizar o que lhe resta de vida terrestre, compenetrado que está da verdade deste pensamento, tão bem expresso por P. Lacordaire em sua peroração, reproduzida mais acima: Nada se perde de um movimento impulsionado por uma criatura livre, e por mais fria que ela esteja sob a tumba, sobrevive na imortalidade pelas lições que deu.

Mais tarde, o Sr. Édouard Feret, um dos primeiros biógrafos do movimento espírita em Bordeaux, viria a confirmar a natureza e os resultados desse apostolado em sua obra “Statistique généralt”:

Discípulo fervoroso de Allan Kardec, levou, durante os últimos anos de sua vida, numerosos adeptos à doutrina espírita, seja em Bordeaux, seja, sobretudo, na região de Entre-deux-Mers, onde habitava na comuna de Arbis, próximo de Targon.

Depois da desencarnação do Apóstolo de Bordeaux, a Revista Espírita publicou diversas vezes palavras de reconhecimento ao seu trabalho, salientando igualmente sua condição de discípulo de Allan Kardec. Destacamos abaixo uma delas:

Na Gironde, em Langoiran, La Sauve, Créon, Naujean, Brasne, Frontenac, Arbis, Ladaux, Letourne, Langon, Targon, Blézignac, Fougères, Latrème, Mazères, Villenave-de-Rions, Capian, etc., etc., há mais espíritas que oficialmente se poderia reunir em Paris, todos partidários de Allan Kardec, e que J.-B. Roustaing iniciou em nossas crenças; eles consideram Allan Kardec e J.-B. Roustaing dois mestres venerados (Revue spirite, 26º ano, 1883, agosto, p. 363).

Roustaing levou sua admiração por Kardec até o último dia. Em seu testamento deixou uma generosa doação à Sociedade fundada pelo Codificador, prestando assim sua última homenagem ao companheiro de ideal que tão bem simbolizava a Doutrina que sublimara sua vida com a publicação da monumental obra “Os Quatro Evangelhos”... Deus os abençoe!