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Destaque da semana

A Verdade, para triunfar e ser aceita, tem primeiro que se chocar com as contradições dos homens. — J.B.Roustaing

REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO:
HISTÓRIA DE UMA EXPRESSÃO

(Texto transcrito / adaptado da obra “Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo”, de Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros)

Para saber mais sobre Roustaing e sua obra, visite o nosso Museu Roustaing.

Os Espíritos do Senhor que, segundo a promessa do Cristo aos seus apóstolos bem-amados, se espalharam sobre a Terra, a fim de trazer a seus irmãos essa Revelação da Revelação há tanto tempo esperada, quererão também, disso temos a íntima convicção, ajudar-nos em nossa difícil tarefa. – AUGUSTE BEZ, por ocasião do lançamento do jornal espírita L’Union Spirite Bordelaise, - Junho de 1865

Encanta ver, no texto em destaque acima, a expressão Revelação da Revelação, tão questionada pelos que não compreenderam, ainda, o papel da obra de Roustaing como coadjuvante e complementar da Codificação Kardequiana.

Aqui, tudo fica claro: O editorial é de junho de 1865, cerca de dez meses antes do lançamento de Os quatro Evangelhos ou Revelação da Revelação, em 5 de abril de 1866. Então, não há dúvida, o texto diz que os Espíritos do Senhor, como o Cristo anunciou, se espalham na Terra, a fim de trazer a seus irmãos o Espiritismo ou essa Revelação da Revelação. A primeira palavra Revelação está como sinônimo de Espiritismo, e a segunda, é sinônimo de Cristianismo. Assim se pode ler: o Espiritismo é a revelação posterior da Revelação anterior de Cristo.

Ao utilizá-la, portanto, os Espíritos autores de “Os Quatro Evangelhos” serviram-se de expressão corrente e, com ela, referiam-se ao ESPIRITISMO CRISTÃO em geral, como TERCEIRA REVELAÇÃO, como obra COLETIVA das VIRTUDES DO CÉU, e não específica e exclusivamente à obra coordenada e publicada por Roustaing, como que a defini-la como uma revelação distinta e muito menos concorrente da Codificada por Kardec, como muitas vezes equivocadamente se interpretou.

Conhecer um pouco mais sobre a história dessa expressão reforça o entendimento acima apresentado. Ela foi bastante estudada por P.-G. Leymarie, o fiel discípulo e continuador de Allan Kardec. Lemarie diz que ela se origina de Joseph de Maîstre, no seu Soirées de St-Pétersbourg, publicado em 1821. Escreve Leymarie:

Sim, Joseph de Maîstre, em 1821, anunciou uma revelação da revelação pelo espírito, uma nova e divina involução [descida] sobre nossa Terra e cada um estará saturado dessa bondade suprema; o que chegará, dizia ele, será inacreditável, até para os crentes, de tal modo sua manifestação será evidente e tomará desenvolvimentos declarados impossíveis por todas as faculdades (Revue Spirite, novembro de 1897, p. 648).

Um ponto da profecia de Maîstre não convence P.-G. Leymarie; é quando ele fala que esta revelação da revelação, esta nova efusão do espírito profético, será reunida numa única cabeça de um homem de gênio:

A aparição desse homem não poderia estar longe; talvez mesmo já exista...(p. 650).

Leymarie não concorda com esta figura pessoal, e, baseado no profeta Joel, ensina:

Não haverá dessa vez um único Messias, mas um número grande de encarregados de diversas funções, disse Joel, enquanto que de Maîstre esquece o fato e pretende que um único homem de gênio pode modificar tudo, o que é uma asserção arriscada (p. 650).

Esta revelação profetizada por de J. Maîstre é o espiritismo, a terceira efusão após a primeira dos profetas judeus, e a segunda do Cristo. E esta terceira manifestação é conduzida por uma coletividade espiritual, como bem alerta Kardec:

“O Espiritismo ... não é uma doutrina individual, nem de concepção humana; ninguém pode dizer-se seu criador. É fruto do ensino coletivo dos Espíritos, ensino que preside o Espírito de Verdade” (A gênese, cap. XVII, item 40).

Leymarie, então, faz uma citação que confirma não só que ele pensava assim, mas também J. B. Roustaing e seus discípulos eram partidários da mesma ideia:

J. de Maîstre foi o profeta disso. J. B. Roustaing em seus quatro evangelhos é partidário da revelação da revelação, do mesmo modo seus discípulos Jean Guérin e o barão du Boscq (p. 648).

Kardec conhecia bem as profecias de J. Maîstre, pois escreve um longo artigo na Revista Espírita (RE, abril de 1867, pp. 148-158) sobre elas e, muito interessado, evoca o precursor do espiritismo, Joseph de Maîstre, na Sociedade de Paris, em 22 de maio de 1867. Antes, porém, da mensagem espiritual, ele cita alguns pensamentos deste homem de um mérito incontestável como escritor, e que é tido em grande estima no meio religioso (p. 155). Vamos grifar apenas alguns destes pensamentos:

Não há mais religião na Terra: o gênero humano não pode ficar neste estado. Oráculos terríveis, aliás, anunciam que os tempos são chegados (p. 148).

A nação francesa deveria ser o grande instrumento da maior das revelações (p. 149).

Deus fala uma primeira vez no Monte Sinai e esta revelação foi concentrada, por motivos que ignoramos, nos estreitos limites de um só povo e de um só país. Após quinze séculos, uma segunda revelação se dirigiu a todos os homens sem distinção, e é a que desfrutamos ... Contemplai .... e vereis ... como mais ou menos próxima uma terceira explosão da onipotente bondade em favor do gênero humano (pp. 153-154).

E não digais que tudo está dito, que tudo está revelado e que não nos é permitido esperar nada de novo. Sem dúvida, nada nos falta para a salvação. Mas, do lado dos conhecimentos divinos, falta-nos muito (p. 154).

Ainda uma vez não censureis as pessoas que disto se ocupam e que veem na revelação as mesmas razões para prever uma REVELAÇÃO DA REVELAÇÃO” (p. 154, [caixa alta dos autores, no original francês a expressão se enconta destacada em itálico por Kardec: une révélation de la révélation [Revue spirite, p. 106])

Pergunto-vos: disso resulta que Deus se interdita toda manifestação nova e não lhe é mais permitido ensinar-nos nada além do que sabemos? Força é confessar que seria um estranho argumento (p. 155).

Evocado J. de Maîstre por Kardec, através do médium Sr. Armand Théodore Desliens (secretário pessoal do Codificador e uma das testemunhas na certidão de seu óbito), ele confirma suas profecias e ensina a abrangência da revelação da revelação (expressão colocada em itálico por Kardec), por todo mundo:

O espírito profético abrasa o mundo inteiro com seus eflúvios regeneradores. – na Europa, como na América, na Ásia, em toda a parte, entre católicos como entre os muçulmanos, em todos os países, em todos os climas, em todas as seitas religiosas ... A aspiração a novos conhecimentos está no ar que se respira, no livro que se escreve, no quadro que se pinta; a ideia se imprime no mármore do estatuário como na pena do historiador, e aquele que muito se admirasse de ser colocado entre os espíritas é um instrumento do Todo-Poderoso para a edificação do Espiritismo (pp. 157-158).

Lembro ao amigo leitor que J. B. Roustaing também evocou Joseph de Maîstre em 1861, seis anos antes de Allan Kardec, em Bordeaux, e enviou, através do Sr. Sabò, a mensagem para o Codificador (RE, junho de 1861, p. 254). Roustaing fez um pequeno comentário desta mensagem de Maîstre e de outras recebidas. Kardec gostou do que leu, e comentou:

Vê-se que, embora iniciado recentemente, o Sr. Roustaing passou a mestre em assunto de apreciação ... pelas citações que o autor desta carta faz dos pensamentos contidos nas comunicações que ele recebeu, prova de que não se limitou a admirá-las como belos trechos literários, bons para conservar num álbum; mas as estuda, medita e tira proveito (p. 258).

Salve o Espiritismo Cristão! Salve a Revelação da Revelação!