Bezerra de Menezes

Casa de Recuperação e Benefícios

Centenário de
"Os Quatro Evangelhos"

Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da humanidade. — Allan Kardec

O CENTENÁRIO DE "OS QUATRO EVANGELHOS"

Não, por favor não se assustem os prezados leitores e visitantes de nosso site, esta matéria não está equivocada e sabemos bem que a magistral obra "Os Quatro Evangelhos", de Roustaing, foi publicada em 1866, e por isso celebramos em 2016 os seus 150 anos... ocorre que recentemente achamos esse texto notável, publicado em "O Cristão Espírita", em sua edição de abril/maio 1966, durante as comemorações do centenário dessa obra tão bem definida por Bezerra de Menezes como "sagrada", e decidimos resgatá-lo e republicá-lo. Não temos com precisão a definição de sua autoria, mas provavelmente deve ser ou do então redator-chefe de nosso jornal, nosso prezado Indalício Mendes, ou do valoroso e igualmente admirado Ivo de Magalhães, grande estudioso da revelação recebida por Emílie Collignon. Como saudade não tem idade... esperamos que apreciem!

"O ESPIRITISMO vê passar agora o primeiro centenário da extraordinária obra "Os Quatro Evangelho" - Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação - recebida pela médium Emílie Collignon, cujas excelentes faculdades justificaram inteiramente a sua escolha pelo Alto. Não temos dados para fixar o dia e o mês do lançamento do primeiro volume dessa notável obra.(1)

As revelações começaram a ser recebida» mediunicamente em dezembro de 1861, terminando em maio de 1865, perfazendo um total de três volumes, aparecidos em 1866.

Guillon Ribeiro escreve à página 43 da edição de 1920 o seguinte: "Em 1866 [Roustaing] publicou os três volumes dos QUATRO EVANGELHOS e ofereceu um exemplar a Allan Kardec que, na sua REVISTA, em junho de 1867, apreciou a obra", etc.(2)

É curioso assinalar a "coincidência": Assim como coube a Kardec coordenar (e codificar) as obras fundamentais do Espiritismo, coube igualmente a Roustaing coordenar 'Os Quatro Evantelhos", desenvolvendo também estafante trabalho. Se Allan Kardec teve do "Espírito da Verdade" a incumbência de sua gloriosa e fecunda tarefa, supreendido, quando menos o esperava, pela honra e responsabilidade do comentimento, Jean Baptiste Roustain, do mesmo modo, foi supreendido pelo Espírito do Apóstolo Pedro, em 30 de junho de 1861, à realização do importante trabalho, o que constituiu inesperada revelação para ele e para a médium Emílie Collignon. Fora ele visitar essa senhora, a quem não conhecia, a fim de apreciar um grande quadro mediunicamente desenhado, representando um aspecto dos mundos que povoam o espaço. Oito dias depois, voltou, por dever de cortesia, para agradecer à Mme. Colligon o acolhimento distinto que lhe havia dispensado. Quando se preparava para sair, a médium sentiu a agitação fluídica indicadora da presença de um Espírito desejoso de manifestar-se. Tudo começou com a mensagem recebida de Mateus, Marcos, Lucas e João, assistidos pelos Apóstolos.(3)

Como cristãos espiritas, rogamos ao Pai que abençoe o Espirito de J. B. Roustaing e de quantos contribuíram para doar à humanidade essa obra magnífica, que "alem de ser obra de estudos e meditação metódica dos Evangelhos, será sempre também indispensável obra de consulta, não só para os que já lhe hajam perlustrado às páginas, como ainda para os que, sem o terem feito, busquem no momento elucidar qualquer das grandes questões que o Espiritismo veio por em foco" (Guillon Ribeiro, tradutor, no prefácio da 4a. edição).

Outro vulto eminente do Espiritismo brasileiro, Manoel Quintão, assim se referiu, em O CRISTO DE DEUS (ed. FEB) a "Os Quatrro Evangelhos": "estudar o Espiritismo não é limitar-se a Kardec, nem limitar-se a Roustaing, nem particularizar com qualquer outro, porque o caráter do Espiritismo está na imanência de suas fontes, que asseguram sempre conhecimentos sempre progressivos para amplitudes infinitas". Guillon Ribeiro disse que essa obra, "em tempo não muito distante, se tornará para os espíritas todos, uma fonte onde todos irão constantemente beber, desde que do seio deles desapareça o nefasto personalismo que ainda os traz desunidos, desde que os liguem o pensamento e o desejo únicos de servirem a Jesus, exemplificando o amor e a fraternidade, demonstrando ao mundo que todos são um com o Mestre Divino como Ele é um com o Pai" ("Jesus - nem Deus, nem homem").

O grande mestre Kardec, na "Revue Spirite", de 1861, págs. 167 a 172, teve palavras justas acerca dos pontos de vista de Roustaing: "Os princípios que aí são altamente expressos (na carta que lhe escrevera Roustaing), por um homem cuja posição o coloca entre os mais esclarecidos, darão que pensar aos que, supondo possuirem o privilégio da razão, classificam todos os adeptos do Espiritismo como imbecis. Vê-se que Roustaing, apesar de recentemente iniciado, se tornou mestre em matéria de apreciação; é que ele tem séria e profundamente estudado, o que lhe permitiu apreender rapidamente todas as consequências da importante questão do Espiritismo, e que, ao contrário de muitos, ele não ficou na superfície. Infelizmente, nem todos têm, como ele, (Roustaing) a coragem de dar a sua opinião, e é isso que alimenta os adversários (citação feita em "Elos Doutrinários", de Ismael Gomes Braga, págs. 13 e 14).

Este último autor, no livro citado, acrescenta: "A autoridade indiscutível de Kardec reconhecia, pois, na médium e no compilador de "Os Quatro Evangelhos", criaturas superiores, capazes; e hoje, diante da aprovação geral por parte dos Espíritos,nós, espíritas conscienciosos, que seguimos o conselho do Codificador, lendo e consultando a Roustaing, temos o dever de aproximar as obras dos dois Missionários e não nos orientarmos por processos dissolventes, como fazem os confrades de outros países, onde até hoje combatem a Codificação Kardequiana por não aceitarem ao que chamam de "dogma da reencarnação" (pág.14).

Nesta oportunidade de real contentamento espiritual, unamo-nos em torno de Kardec e Roustaing, estudando-lhes as obras e preparando nosso espírito para a mais alta e profunda compreensão dos Evangelhos e da Doutrina Espírita, ou, melhor dizendo, do Cristianismo puro, em espírito e verdade, porque Espiritismo e Cristianismo são uma só doutrina, uma só ideia, um só corpo e uma só alma, com um único objetivo: a felicidade da criatura humana nos dois planos em que se divide a vida, o espiritual e o material. Ambos preparam o homem e a mulher para a vida de hoje na Terra e para a vida de amanhã, na Espiritualidade. Ambos mostram a relação íntima entre o Passado, o Presente e o Futuro, pelos lindes do Carma, através da Justiça Divina representada na reencarnação."

(1) - A intuição de Azamor, Indalício e Ivo foi certeira! Publicam a homenagem ao centenário de "Os Quatro Evangelhos" na edição de Abr/Maio de 1966 e, anos mais tarde, a pesquisa coordenada pelos nossos irmãos Jorge Damas Martins e Stenio Monteiro de Barros conseguiu recuperar o anúncio de lançamento da obra - confirmando como suas datas de lançamento exatamente a 05 de abril (1o e 2o. volumes) e 05 de maio de 1866 (3o. volume). Vide figura acima, à direita. Quem desejar mais informações a respeito favor consultar "Jean Baptiste Roustaing, Apóstolo do Espiritismo", em nossa Biblioteca virtual.

(2) Aqui houve um erro material, o correto é junho de 1862.

(3) Há também mais detalhes sobre essa visita e sobre a natureza e autoria desse quadro mediúnica na obra acima referida, vale consultar...